quinta-feira, abril 25, 2002

Acordei com a seguinte idéia. Intuição não recebe o amém da segurança. Segurança é algo que simplesmente não faz parte da vida. No longo prazo, evitar o perigo não é mais seguro do que expor-se de pronto.

Intuição requer coragem. Coragem para transformar sentimentos de estômago em princípios para a vida.

Ter intuição é expor sensações internas, originadas nas vísceras, e saber transformá-las em cognição. Ter um palpite. Confiar no aperto no peito e na risada espontânea. E, depois, convertê-las em idéias originais, próprias.

Minha intuição hoje diz que a vida é incondicionalmente extraordinária.

sexta-feira, abril 19, 2002

Mas essa deu no nervo! Arquiteto, profissional de comunicação, marqueteiro graúdo e agora me obriga a mergulhar nos alfarrábios para revisar a gênese da memória?

É verdade. São duas - uma memória elétrica e outra química. A primeira agrupa neurônios pelo princípio da excitação (uma rede elétrica ligada). Quando vamos dormir, ela se desfaz. É o que os americanos chamam de working memory. Passamos o dia com ela ativada.

Se acordamos e lembramos de algo, é porque houve síntese química da cola cerebral que garante estabilidade ao circuito. Quando replayed pela mente, lembramos o evento original.

Mas o sono - esse é o ponto chave. Ele apaga a memória volátil. Mas é durante o sono que gravamos a memória duradoura. E aqui reside um segredo. Precisamos dormir para lembrar. No sono acessamos o chip do aprendizado. Durante o dia dizemos "quero lembrar isso e aquilo, por que vou precisar amanhã ou depois". Mas é durante o sono que sistemas independentes, fechados a sete chaves pelo miolo cerebral, decidem o que é importante - e o que não é importante - guardar.

Regra #1: importante é tudo que tem algum vinculo emocional. O resto é tratado pelo miolo como informação - boa informação, é verdade, porém dispensável, não garante a sobrevivência.

Então, vejamos: memória curta, longa e sono. O Persona acabou de ter uma sacada e ligou as 2 memórias com o marketing promocional e institucional, respectivamente (está bem aí embaixo). E o sono, Mario? O que é que no marketing faz o que o sono faz na vida: apaga o lixo da memória volátil e reforça as conexões para o que realmente interessa?

Precisamos saber disso meio logo.

sábado, abril 13, 2002

Mario,

Já ouviu falar de primal networking? Talvez não, mas a definição saiu do seu último post.

Marketing de primeira grandeza. Networking com vínculos permanentes. Mesmo no mundo dos negócios, onde vínculos são raramente permanentes. Business costurado pela postura afetiva, pelo reaching out.

Caso do Armando, que escreveu a partir do impulso criativo. Resultado: estamos networked. Linkados pelo cérebro direito no mundo dos negócios. Um oportunidade para crescer no plano horiontal.

M. Shimizu trabalha no setor de turismo. Escreveu para dizer que empatia é essencial para o profissional dos caminhos do cliente. Entrar nos seus sapatos, sem calçar seu número. Sugestão: primal networking. Marketing de relacionamentos da melhor qualidade.

Mas você pergunta uma pergunta aguda. Onde funciona isso, no cérebro da mente? Eu me disse que preciso de uma resposta logo. Mas como criar sobre quem cria?

Segunda-feira, mais tardar.

quinta-feira, abril 11, 2002

Mario,

Tá bom, precisou que o amigo Armando Moreira, lá de Portugal, nos enviasse um e-mail dizendo que o embate travou.

Olhe, já vou avisando que a culpa é do Mario. Claro, ele me escreveu dizendo que tinha compromisso importante - e tinha mesmo, da palestra dele dependia o futuro de uma gigante aqui no Sul. No fundo não acreditei muito nisso. Até a newsletter dele começou a ser escrita no vôo para São Paulo.

Vocês viram o tom da minha pergunta no post anterior? E o que aconteceu? Nada. Simplesmente nada.

Só vou dizer isso aqui nesse blog: o Mario Persona é o maior storyteller que eu conheço, mas que ele engasga, ah isso ele engasga. Tá perdido nessa história da dádiva e seu vínculo com o marketing.

Não, no fundo o problema não deve ser esse. O de estar perdido. Mario não se perde assim. Deve estar preparando alguma. Convenhamos, o cara é um estrategista. Mas é que eu fui meio ousado. O que é que o Mario vai dizer quando perguntarem para ele “E aí, você depositou aquele cheque? O que você fez com ele?”

Agradeço ao Moreira, lá da Link portuguesa, por me ajudar a terminar com essa dengue mental que tomou conta do Mario. Agora ele vai ter que escrever.

Tô esperando. O Moreira também. E outros. Todos sedentos.

sábado, março 30, 2002

Mario,

Vou enviar o cheque. Quero dizer, eu honestamente acredito que vou enviar o cheque.

É que dessa forma, tenho uma chance. Se eu depositar os 500, a coruja está pelada, não tem mais jeito. Mas se eu enviar o cheque, há uma possibilidade do imprevisível. O dado pode pesar, o cheque pode adquirir pessoalidade, você vai precisar levá-lo ao caixa eletrônico e depositá-lo. Pode ser que algo aconteça e você desista.

Esse é o conjunto de idéias articulado pelo meu hemisfério cerebral esquerdo, dominante e que deseja impor as regras do jogo. Não obstante, consultei o menor.

O menor, do lado direito, não-dominante, diz que você apontou o caminho para San Thiago ao dizer que, se meu dado for incondicional, ele "cria um sentimento de dívida e responsabilidade, que será proporcional à avaliação do que recebe, não do que dá."

Então, o que é que eu ganho? Em um primeiro momento, isso. Saber que você precisará pesar a proporção e arcar com uma responsabilidade. Ao dar, não gerei repouso; gerei, de certa forma, angústia. O que você vai fazer com o dado, ou em suas palavras, quais são as próximas peças do dominó?

Minha dificuldade, agora, são os 500. Como vou mandar 500 paus para você e dizer "puxa, como sou altruísta"? É que, no caminho, vou precisar respirar, letra por letra, o que disse Henri Raymond:

"Quanto mais igual a troca, mais nos entediamos. A dádiva garante a sobrevivência do tempo, desequilibrando a oferta e a contrapartida."

Para dar, incondicionalmente, eu preciso acreditar que vou receber, incondicionalmente.

Suponha que eu dê 500 reais ao meu colega de empresa. Ele é gerente de equipe, como eu. No dia seguinte, por infortúnio, sou chamado pelo RH e mandado embora. Coincidência? Minha amígdala cerebral não vai perdoar. "Viste, tolo, deste os 500 e ainda levaste o bilhete azul. Quem manda ser o moderninho dadivoso?

Dois meses depois, sou chamado pela Amazon, para onde enviei currículo, e sou convidado para ser diretor de distribuição (hei, distribuição é o ponto mais vulnerável da Amazon) e ganhar 4 vezes mais.

Mera coincidência? Coincidência o cátsu, esse é o princípio da dádiva operando no mercado!

Então, Mario, estou a um passo de cumprir minha oferta. Estou me livrando de procurar adivinhar as próximas peças de dominó. Eu simplesmente não preciso saber quais elas são. Esse problema é seu. Meu problema é dar, e acreditar que o círculo se completa em mim. Ter fé, em suma.

Isso é marketing de relacionamentos. Tem gente que acha que é distribuir cartão de visitas. Esperando telefonema no outro dia: "quer ganhar um dinheiro?".

Não, MR é mais do que isso. Nele, dar é o topo da pirâmide. Mas é como você diz, eu preciso aprender um pouco de marketing antes. Meu negócio são os hemisférios. Enquanto eu me livro do esquerdo e fico olhando para o cheque ainda em branco, o que você tem para me ensinar sobre MR hoje, Mario?

quarta-feira, março 27, 2002

Mario,

Se eu trabalhar duro hoje, da manhã ao pôr-do-sol, e se todos os meus recursos estiverem em ordem, inclusive meu marketing de relacionamentos, eu termino o dia com 1000 reais na conta.

Eu gostaria de dividir essa soma com você.

É, com você, que a essas alturas do campeonato não fez absolutamente nada, não contribuiu para minimizar minhas despesas, não investiu na divulgação como eu fiz esses anos todos, não participou da montagem de uma rede de pessoas que me encaminha trabalho, nada, não fez absolutamente nada, coisa nenhuma.

Você aceita receber 500 reais?

De acordo com os resultados de um estudo conduzido pelo antropólogo da Business School da Universidade de Michigan, Joseph Henrich, você está numa saia justa.

Ele simulou um jogo econômico, em que doadores podem doar parte do dinheiro ganho em um dia de trabalho para alguém aleatoriamente escolhido. Pode ser qualquer quantia, mas se o receptor recusar, ninguém ganha nada. As leis "formais" da economia rezam que a maximização de recursos se dá sempre que o receptor aceitar qualquer oferta e o doador doar o menos possível.

Mas não é bem isso que acontece. Certas doações são rejeitadas -- mesmo às expensas de perda pessoal --, dependendo do valor doado. Isso mesmo, a relação oferta/aceite depende do valor ofertado. Um cálculo é realizada nas entranhas do cérebro e um veredicto é lançado pelos neurônios.

Então, qual é o seu? Você aceita os 500 mangos? E, claro, por que?